quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Os relacionamentos como o lugar do discipulado

Eu ligo para a minha noiva - que está a um milhão de quilômetros de distância - e começo a derramar minhas frustrações, minha ira, decepções e angústia ao telefone.
Após demonstrar compaixão, ela subitamente começa a me fazer perguntas que esclareçam meus pensamentos e sentimentos. Questiona a minha percepção dos fatos - demonstrando que às vezes eles não aconteceram como eu digo: eu estou interpretando-os segundo o meu coração. Suavemente, e às vezes com seriedade maior, vai desvendando que o meu coração encontra frustrações, ira, e angústia, por expectativas erradas, idolatria, temor de homens, e o esquecimento de quem sou em Jesus.
Pouco a pouco vai reorientando o foco de minha observação da realidade, tirando a minha centralidade, e colocando-a em Cristo.
Enquanto isso, eu reajo de várias formas: ora reconhecendo prontamente o meu erro, e caminhando na perspectiva de ajustar a compreensão das coisas segundo as Escrituras, e ora lutando pra manter minha posição, escondendo-me atrás de desculpas e da culpa de outros ("mas foi ele que fez ...", "mas eu sou vítima...", ...). Até que, pela graça de Deus, sou vencido. Ainda que não tenha todas as questões resolvidas, já tenho um novo olhar sobre a coisa, e já posso caminhar para o conserto.

Talvez poucos casais vejam o seu relacionamento como o lugar do discipulado. Na vida do casal - namorados, noivos, ou casados - existem muitas oportunidades para o crescimento espiritual. Provavelmente é com o seu companheiro que você mais conversa, então pense nas possibilidades. Ele começa a conhecer o seu coração, identifica os recursos positivos e negativos que você usa para lidar com as situações, percebe os seus pontos fortes e fracos, e sabe como ajudá-lo.
É no convívio diário de nossos relacionamentos que a prestação de contas pode ser melhor vivenciada, que os pecados podem ser denunciados, e que Jesus pode ser exaltado.
Para que isso aconteça, no entanto, o casal precisa de honestidade. Principalmente no namoro, há muito fingimento por parte de ambos. O namorado posa de sabichão e forte, enquanto a namorada interpreta uma donzela meiga. As lutas são escondidas e não há diálogo honesto. Ambos vão aos encontros com suas máscaras. Para um efetivo discipulado, a honestidade é fundamental.
Além da honestidade, o estabelecimento de um diálogo Teo-referente também é necessário. Por "diálogo Teo-referente" quero dizer que as conversas devem ser percebidas como oportunidades de honrar a Deus, e promover o crescimento do outro. Que tal criarmos uma cultura na qual o casal tem tranquilidade para conversar sobre seus erros e fraquezas - sem que eles se sintam acusados ou diminuídos um pelo outro? Conversar sobre essas questões com alguma regularidade pode ajudar os pombinhos a criticar e receber críticas mutuamente, em um clima de segurança, amor, e temor do Senhor.
Use a sua criatividade e pense nas possibilidades de um discipulado no namoro/ noivado/ casamento. Leitura bíblica conjunta? Aconselhamento mútuo? Oração de um pelo outro? Orações conjuntas? Análises do dia-a-dia a partir da Escritura? Estudo de boa literatura juntos?
As possibilidades são muitas. O relacionamento não é a fuga das questões de Deus e da igreja. Não é um refúgio da realidade, ou dos conflitos com os pais, com o chefe no trabalho, ou com qualquer outra pessoa. Não é o centro da minha existência. Não é um meio para a satisfação pessoal exclusiva.
É o palco da glória de Deus, o lugar do discipulado.

2 comentários:

  1. Allen excelente texto. Como ministro reformado vivo e ensino a minha congregação que o lar é o principal meio de evagelização, veja os "mandatos" cultural, social e espiritual (in Gerard van Groningen). devo discípular minha família com ás Escrituras, nossos relacionametos devem ser "encharcados" com às Escrituras. Gênesis 12.3b encontramos a promessa e a bênção de que em nós serão benditas todas as famílias da terra. Isso começa em casa, no lar. Precisamos resgatar nas igrejas o culto domestico que é o parametro do culto público e sem o qual a reunião pública não passa de aparência exterior. Discutir o tema do sermão e suas implicações para a família. o perdão e confessar de pecados entre os conjuges é algo transformador.
    Deus abençõe.

    ResponderExcluir
  2. Muito bom lindo! Lembrei de ontem. :) Só que a historinha aí do começo tá invertida. Geralmente é você quem me ajuda a moldar meu caráter como o de Cristo, a perceber meus erros e ajustar minha postura diante das dificuldades.
    Fofo, amo você.

    ResponderExcluir