terça-feira, 26 de outubro de 2010

Sozinh@ e solteir@

Qual o segredo da felicidade, será preciso ficar só pra se viver? 
(Kid Abelha, Grand Hotel)

As canções sobre solidão refletem um item que, em maior ou menor grau, afeta muitos relacionamentos. De fato, não poucas pessoas, à medida que se aproximam da casa dos 30, entram em um clima de ansiedade quanto ao seu estado civil. "Ficarei só?" - pergunta uma jovem. "Vou ficar encalhada mesmo?" - outra questiona. "Será que eu nunca vou encontrar alguém?" - um homem pensa.
Por um lado, tais questões podem ser legítimas. Para alguém que planejava casar e estar acompanhado de um cônjuge até o fim da vida, chegar a determinada fase e ainda não ter encontrado @ parceir@ pode ser algo, até certo ponto, alarmante. Não há problemas em se intensificar as orações e até mesmo ter os "olhos mais aguçados" na procura de outro para amar.
Por outro lado, quero convidar você a pensar sobre os elementos que podem estar por trás dessa ansiedade - e que, de fato, estão em muitos casos. A angústia que brota da solidão e do medo de ficar só pode revelar alguns ídolos do coração, bem como o esquecimento de lições bíblicas importantes para todos nós. Além disso, existem implicações para a vida no dia a dia, como uma resposta prática daqueles que vivem em tal preocupação.
Pensemos juntos.


O problema cultural
Existe uma dimensão cultural seriamente problemática - não apenas em termos amplos, mas mesmo dentro das igrejas. Refiro-me à idéia de que alguém sempre deve estar acompanhado. Desde cedo nós brincamos com os bebês, simulando namoros entre crianças que, de outra forma, não considerariam olhar para a garotinha de 2 anos à sua frente desta maneira. Empurramos os infantes para pegarem na mão do bebê mais próximo, e os encorajamos a beijar ou simular um "relacionamento adulto", apenas para sorrirmos, soltarmos aqueles ruídos que fazemos diante de bebês (o típico: "ooooooooh"), e satisfazermos a nossa brincadeira tola. Em outras palavras, transformamos seres humanos em nossas Barbies e Kens, para deleite pessoal, incutindo em suas cabeças, desde cedo, que precisam estar com alguém, precisam se relacionar amorosamente com um parceiro. Não é à toa que, ainda cedo encontramos tais crianças envolvidas em algum tipo de "namorico". Elas foram treinadas para tanto.
Além disso, existe uma pressão social na igreja, por meio da qual um adolescente ou jovem necessariamente deve estar namorando. Uma senhora idosa encontra uma adolescente de 16 anos. A jovem ainda não sabe escolher adequadamente o batom que vai usar, mas a senhora lança a pergunta fatal: "cadê o namorado?". "Que namorado?", responde a garota. "Você não tem? Não se preocupe. Linda desse jeito, logo vai arrumar um". E assim a adolescente vai sendo ensinada que não apenas é natural que ela esteja com alguém, mas é necessário que ela esteja em um relacionamento.
Quanto mais velhas as pessoas se tornam, maior a cobrança por um parceiro. Aquela adolescente agora tem 25 anos, e ainda não tem um namorado. O que acontece em sua igreja? Todas as suas amigas insistem em perguntar quando vai aparecer um "carinha na parada", ou pior: insistem em lhe apresentar homens e fazer programas ridículos na tentativa de lhe empurrar pessoas.
O resultado é que, ao chegar aos 30 anos de idade, tal jovem estará profundamente atormentada. Por um lado as pessoas ainda perguntam por um namorado. Por outro, ainda existem aquelas que desejam lhe apresentar pessoas. Por trás, existem os que zombam dela, afirmando que "ficará para titia". E na frente, um conjunto de irmãzinhas piedosas diz toda semana que está orando para ela "encontrar o seu ungido".
Com essa conjuntura, ela criou uma pressão interna, por meio da qual não aceita o fato de estar só. Isso a coloca em crise consigo, mas ainda mais fundamentalmente, com Deus.

O problema das pressuposições
O que há de errado nessa história? Os amigos e irmãos não estavam preocupados com a jovem? Em algum sentido, sim. Porém, estavam trabalhando a partir de pressuposições errôneas, que os levaram a um comportamento errado.
Em um nível básico, eles estão trabalhando a partir da convicção de que todos devem estar acompanhados para serem felizes. Será isto verdade? Quando olhamos para as Escrituras, percebemos que as coisas não são bem assim. Quando Jesus é questionado sobre a seriedade do casamento, em Mt.19, Ele afirma que nem todos estão aptos a lidar com isso (vv.11-12). O Messias afirma, ainda, que há eunucos de nascença, ou seja, pessoas que nasceram para ficarem sozinhas por toda a sua vida. Em 1Co.7, Paulo sugere que as pessoas sejam como ele, e afirma isso no contexto de que é bom não se casar e dedicar-se a Deus. A Bíblia rejeita fortemente a noção de que alguém só é feliz se acompanhado. Por isso, ninguém que viva no celibato deve ser alvo de nossa zombaria ou preocupação exagerada - não podemos substituir o Espírito Santo.


Ídolos do coração
Agora pensemos na jovem angustiada. Que problemas percebemos no quadro? Primeiramente, ela assimilou a pressuposição de que só será feliz quando estiver casada. Já denunciamos e desmistificamos esse conceito pelas Escrituras.
Ao colocar a companhia de alguém como o elemento que determinará a sua felicidade, tal jovem criou um ídolo. O seu bem-estar depende de um relacionamento com um rapaz. Agora ela passa a viver a serviço deste ídolo. Busca jovens em todo lugar. Conversa com suas amigas sobre rapazes, e tenta acalmar o seu ídolo com a esperança de que logo encontrará alguém. Às vezes não consegue acalmar, e se entrega à ira, ao desespero, ora tendo reações agressivas, ora se fechando em seu mundo, para que ninguém a alcance.
Em um nível ainda mais profundo, tal jovem está confusa em sua identidade. Um dia a consciência de sua identidade em Jesus era o fator determinante de sua vida, mas agora ela é definida por sua luta contra a solidão. Ela se vê definida como "solteirona" ou "encalhada", e não como "filha de Deus", ou "amada por Jesus".
O resultado é que, na bagunça entre idolatria e confusão de identidade, ela tem passado a ver Deus como Aquele que a impede de ter a sua satisfação em um casamento - ela vive a perguntar: "Por que Deus não responde as minhas orações por um marido?".

Ajustando o foco
Como podemos ajudar esta jovem? Primeiro, já identificamos um quadro problemático. A luta foi construída desde a infância, e assim as coisas não serão resolvidas num passe de mágica. Mas temos esperança, pois quem faz as coisas não somos nós, mas o Redentor - Aquele que salvou a jovem do maior de todos os problemas: a condenação do pecado.
Podemos ajudar a jovem resgatando a sua identidade em Jesus. O ponto mais fundamental, a partir do qual os outros são levantados, é a questão de sua identidade. Quando ela se perceber como a Escritura realmente a define: uma filha de Deus, amada por Jesus e por Ele cuidada, as outras questões passarão a ser tratadas com maior clareza. Ela precisa compreender que, em Jesus, ela tem tudo o que precisa para uma vida plena (2Pe.1.3-9). Quando estiver realmente satisfeita em Deus, verá que a companhia de um homem pode até vir, mas não ocupará o lugar central em seu coração.
Após o ajuste da identidade, a idolatria precisa ser desmascarada. Ela deve contemplar o fato de que está permitindo que a busca por um parceiro determine a sua vida como um todo, inclusive o seu relacionamento com Deus. Identificado o ídolo, ele deve ser quebrado, e as relações reajustadas, tendo Jesus como o centro da vida.
A essa altura, ela poderá estar pronta para saber (ou já saberá) que existe a possibilidade de ficar solteira para sempre. É o momento de corrigir as pressuposições erradas, a cosmovisão regional e pessoal que foi desenvolvida desde a infância. Obviamente a ansiedade e a luta com isto pode se manifestar por várias vezes em sua vida, mas devemos ajudá-la a ter a munição das Escrituras, para reconhecer que Deus está cuidando de sua vida.

Outros erros, e uma convocação
O caso poderia ser expandido em muitas nuances, e você pode pensar em mais detalhes do que eu. A idéia é ilustrar uma situação. Existe uma conexão direta entre tais pressuposições e ídolos, e as condutas do dia-a-dia.
Pessoas com tal ansiedade podem ser tentadas, por exemplo, a rebaixar os padrões para seus relacionamentos. Nesse sentido, a jovem poderia riscar de sua lista o critério "ser cristão", e passaria a buscar qualquer homem - o que lhe renderia vários outros problemas.
Como estratégia de manipulação para segurar o namorado até o casamento, a jovem poderia abrir mão do critério pureza sexual. Para não ficar sozinha, passaria a fazer o que o namorado pedisse, relacionando-se sexualmente com ele como forma de mantê-lo consigo.
Várias outras estratégias seriam utilizadas, tendo como fundamento o medo de ficar só.
O evangelho nos liberta desses temores. Somos convocados a (1)corrigir a nossa conduta, se temos contribuído para um ambiente de pressuposições anti-bíblicas quanto aos relacionamentos; (2) ajudar aqueles que sofrem à nossa volta, desmascarando ídolos do coração; (3) resgatar a identidade em Cristo daqueles que, em meio à angústia, sentem-se definidos por suas lutas; e (4) demonstrar amor e trazer esperança aos que precisam da Palavra de Deus.
Deus nos ajude nessa tarefa.

Um comentário:

  1. Excelente colocação Pastor Allen. Atualmente, são poucos os jovens que conseguem perceber e aceitar a vontade de Deus para suas vidas, realmente é difícil, mas temos que manter o foco no sacrifício de Jesus para nos salvar. Isso é o bastante para termos uma vida sossegada, certos que nossa herança está no céu e que tudo aqui é passageiro!
    Continue contribuindo, por meio do Espírito Santo, para o nosso despertar em Cristo!
    Fabi

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